Poesia de introdução da minha monografia:
Eu adoro tanto trabalhar com poesias que o tema escolhido para a realização da monografia da minha pós-graduação foi justamente ela: A POESIA LÚDICA NA SALA DE AULA.
Abordei a importância do brincar com as palavras e para isso me baseei em obras de autores da poesia moderna que eu adoro como José Paulo Paes, Elias José, Tatiana Belinck, Mário Pirata, Caparrelli, entre outros... Dei ênfase às teorias de Averbuck, Abramovich, Cunha, Zilberman, Aguiar, Bordini, Vilhena...
Iniciei o trabalho com uma pesquisa sobre a Literatura Infantil desde o início, quando as obras eram escritas somente para os adultos e não existiam obras infantis, até os dias de hoje; após abordei a Poesia em sala de aula e como ela vem sendo trabalhada por muitos professores ainda; fiz todo o histórico da poesia infantil no Brasil e de autores que se consagraram nesta área e finalmente relatei a minha metodologia, com descrição das atividades, aplicação e análise dos dados coletados...
Foi um trabalho que envolveu muito tempo, mas que me deixa realizada como pessoa e como profissional da área.
Essa poesia eu utilizei na introdução da monografia:
A MENINA TRANSPARENTE
Eu apareço disfarçada em todas as coisas...
Posso ser vista no pôr-do-sol ou no nascer dele.
Eu posso estar através da janela,
posso ser vista na asa da gaivota
ou pelo ar que passa por ela.
Muitos me vêem no mar,
outros na comida da panela.
Posso aparecer para qualquer ser,
desde ele pequeninho;
ficar com ele direitinho,
se tratar de mim como eu merecer.
Uns me pegam pra criar em livro,
outros me botam num vestido lindo,
cheio de notas musicais:
fico morando dentro da música.
Tenho muitas mães e digo mais:
sou uma criança com muitos pais.
Tem gente que diz que eu
nasço dentro da pessoa,
e faço ela olhar diferente
pra tudo que todos olham,
mas não notam.
Às vezes apareço ser transparente e,
de mansinho
que mais pareço um Gasparzinho.
Tem gente que nunca percebe que estou ali,
não cuida de mim,
não me exercita.
Eu fico como um laço de fita
que nunca teve um rabo de cavalo dentro.
Eu fico como uma planta de dentro de casa
que ninguém molha, conversa, nem nada.
Quem me adivinha logo dentre dele,
quem percebe que estou ali diariamente,
quem anda comigo e com o meu gingado,
fica com o coração inteligente
e com o pensamento emocionado.
A esse que eu dou a mão,
e vou com esse pra todo lado:
aniversários, passeios, sono, cama, biblioteca,
casa, escola;
estou com esse a toda hora.
Tem gente que me vê muito na beleza da flor,
no mato, na Primavera e no calor.
É que ando muito mesmo.
Eu posso até voar!
Por isso que me vêem no céu, nas estrelas, nos planetas
e nas conversas das crianças.
Quem anda comigo tem muita esperança.
Todo mundo que me tem
pode me usar e me espalhar por aí.
Quem gosta de muito de mim,
depois que me conhece,
junta gente em volta como se eu fosse uma festa.
Me usam até em palestra!
Me acordam lá do papel.
Ih! Eu tinha esquecido de dizer
que, quando a pessoa começa a me
escrever,
eu fico morando no papel.
Toda vez que alguém me lê para dentro
eu passo para dentro dele.
Toda vez que alguém me lê para fora, em voz alta,
como se eu fosse uma música,
eu passo pra dentro de todo mundo que me vê,
eu posso trazer alento a todo mundo que me escuta.
Tem gente que pega só numa fase,
como se eu fosse uma gripe boa,
e como se dessa boa gripe ficasse gripada.
Quero dizer...
eu dou muito no coração de gente
apaixonada.
Minha palavra é do sexo feminino,
brinco com menino e com menina,
fico com a pessoa até ela ficar
velhinha;
inclusive de bengala:
e depois que ela morre,
faço ela ficar viva
toda vez que por mim é lembrada.
Às vezes eu sou sapeca,
às vezes eu fico quieta,
mas todo mundo que olha através de mim
é poeta.
Veja se eu sou esta
que fala dentro de você.
Eu não posso escrever
porque não sou poeta:
sou a poesia!
Tente agora fazer um verso.
Se eu fosse você, faria.
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